Por Paulo Roberto Barbosa Ramos – Professor Titular do Departamento de Direito da UFMA
É inegável que estamos testemunhando um novo momento da História da Humanidade. Em nenhuma outra ocasião foi possível observar tamanha mobilização e coordenação de esforços para vencer um aparente inimigo comum.
Houve pandemias muitas no decorrer da História da Humanidade mesmo que não recebessem esse nome. As suas consequências, como as da chamada gripe espanhola foram até mais catastróficas que as que estamos observando até o presente momento. Contudo, diferentemente das demais, menos ou mais devastadoras, estamos acompanhando o desenrolar de uma com características muito próprias.
Muito embora se trate de uma pandemia, como tantas outras pragas com origem na Ásia, notadamente na China, vem sendo acompanhada desde o seu início oficial por todo o mundo conectado. Os alertas sobre a possibilidade de sua propagação eram previsíveis, mesmo diante de medidas que foram paulatinamente tomadas, mesmo que não tenham coincidido com o processo de evolução do mal, o qual, é o que se constata, foi muito mais rápido.
É claro que os atuais mecanismos de deslocamento, como aviões, trens de alta velocidade, carros também, contribuíram para a agilidade da praga, mesmo sendo lícito suspeitar que as autoridades chinesas tenham tentado silenciar o mal da mesma forma que têm conseguido silenciar as liberdades públicas. Fracassaram e com elas boa parte dos demais países do mundo que não adotaram no tempo certo medidas para proteger as suas populações, ocasionando o caos global que estamos assistindo.
A atual pandemia intitulada de Covid-19 talvez seja atualmente a doença mais recitada no mundo, mesmo que não se saiba ao certo sobre todos os gravames que possa provocar ao organismo humano. De qualquer forma, a dinâmica das redes sociais se encarregou de construir uma narrativa sobre um mal que pode ser ainda mais danoso do que vem sendo divulgado.
É muito provável que doravante a atuação dos governos, especialmente daqueles mais responsáveis, venha a ser diferente. É de se especular o quanto essa doença será capaz de inibir as relações humanas, estimular a xenofobia, redimensionar a economia global e ainda supervalorizar os contatos virtuais, acelerando ainda mais o processo virtualização das atividades humanas.
Se reações mesmo que tardias aconteceram em vários países para evitar o colapso dos sistemas de saúde significativamente limitados, a lógica política apontará os riscos cada vez maiores de um mundo globalizado sem transparência e sem regras claras.
As desigualdades há muito já existentes ficarão mais nítidas e isso irá produzir transtornos para governos. Como estes governos enfrentarão todos esses desafios é uma pergunta que deve ser feita.